Crítica I Batman

A Adaptação para o cinema do personagem Batman – criado pelo desenhista Bob Kane e pelo escritor Bill Finger em 1939 – teve, como sabemos, altos e baixos. Depois da excelente estreia na telona em 1989 com o longa ‘Batman’ – com a direção de Tim Burton e tendo o ator Michael Keaton na pele do morcego vigilante – o personagem experimentou muitas pesadas críticas nos anos seguintes notadamente pelo tom pastelão da era do diretor Joel Schumacher (falecido em 2020) que, pasmem, incluiu até ‘bat-mamilos’ no traje do personagem. Para botar ordem na casa e termos uma abordagem mais realista, foi chamado o talentoso diretor Christopher Nolan (Amnésia, Tenet, A Origem) que iniciou com Batman Begins’ (idem – 2005) uma trilogia excessivamente aclamada pelo público e crítica. Surpreendentemente, logo após a produção de ‘Liga da Justiça’ (Justice League – 2017) a Warner Bros. entregou a direção e roteiro de um novo Batman justamente para o ator que estava vivendo o personagem naquela produção: Ben Aflleck. Problemas particulares na vida do ator (separação conjugal e luta contra o alcoolismo) suspenderam o projeto mas naquela altura um roteiro já havia sido escrito. Nesse sentido, a produtora chamou para dirigir aquele projeto, o competente diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos, Deixe-me Entrar) o qual aceitou a arriscada missão mas exigindo que ele colaborasse com um novo roteiro, tudo para que somente a sua visão do personagem fosse filmada, sem as ideias de uma história já pronta, contendo abordagens que não conteria seu DNA. Finalmente, em fevereiro de 2022, Reeves nos entrega um Batman ainda mais realista e tendo por ironia do destino o ator Robert Pattinson, que foi lançado em Hollywood pela saga Crepúsculo vivendo o vampiro Edward, dando vida icônico personagem. 

Em ‘Batman’ temos uma Ghotan City decadente, infestada por criminosos e policiais corruptos, onde de forma solitária vemos um jovem vigilante mascarado tentando, sem sucesso, fazer a diferença ao arriscar sua vida diariamente nas perigosas ruas daquela grande metrópole. Agora, temos um Batman que está atuando há somente 2 (dois) anos e o longa opta sabiamente por evitar flashbacks da morte de seus pais, razão pela qual o jovem milionário decidiu por ter essa segunda vida. Apesar do dinheiro fácil e do acesso a tecnologias de ponta, o que faz a diferença no personagem dessa vez é a sua inteligência e capacidade de resolver enigmas – tendo em vista que o vilão principal é o Charada – fazendo com que até a polícia de Ghotan o permita a visitar cenas de crimes para enxergar elementos que os investigadores convencionais teriam deixado passar. O traje do herói é bem realista e possui uma proteção balística contra disparos de armas de fogo além, é claro, de um cinto tático contendo itens que de fato fariam parte do arsenal de um vigilante noturno. O icônico Batmóvel (sonho de todos os homens) foi construído na plataforma de um muscle car customizado e apesar do gigantesco motor e chassi reforçado, não possui qualquer armamento como metralhadoras e misseis, amplamente utilizados nas versões anteriores do famoso automóvel. Vale salientar que esse Batman também utiliza uma moto para missões que necessitem de uma maior agilidade de locomoção, a qual, novamente, não possui qualquer tecnologia ou armamento instalado, sendo apenas uma motocicleta com orelhinhas na carenagem da frente; nada a mais. A afinada direção de Reeves opta por mostrar as cenas de luta sem cortes, ao passo que o roteiro cuidadoso mostra um herói sempre atormentado pela sua incapacidade de resolver todos os problemas da cidade. O elenco de apoio está afinadíssimo com destaque para a atriz Zoë Kravitz – que dá vida a Mulher-Gato – e para o ator Colin Farrell, irreconhecível e magistral no papel de Pinguim, vilão que possivelmente venha a ganhar uma história derivada, ou spin-off.

A abordagem ultra realista de Matt Reeves em ‘Batman’ chega ao ponto de mostrar com frequência a maquiagem preta borrada ao redor dos olhos do herói a qual evita mostrar a pele clara dessa região da máscara pois em longas anteriores ela era magicamente removida quando o Batman retirava o capuz. Entretanto, mesmo em um contexto de extrema violência urbana, o diretor e roteirista quis mostrar um anti-herói que evita matar os criminosos, ainda que estes após os combates tenham que ir direto para a UTI mais próxima para não conhecerem o criador. A trilha sonora composta por Michael Giacchino é um personagem a mais na trama, casando magistralmente com o que é retratado na telona e mantendo a imersão da trama pelo telespectador. O CGI é levemente usado pois existe uma ampla preferência por efeitos práticos, mais um ponto alto do filme tendo em vista que a computação gráfica mal feita e em demasia, compromete o sucesso de qualquer produção. ‘Batman’ é um filme de quase 3 (três) horas e tendo sido lançado em uma época sem concorrentes de peso, poderá fazer bonito na bilheteria também nas semanas seguintes ao seu lançamento. Meu receio particular em relação ao longa reside apenas no fato de que alguns telespectadores poderão ir ao cinema desejando ver uma ação desenfreada, o que de fato não ocorre, tendo em vista o roteiro tentar retratar justamente a fase de detetive dos quadrinhos do personagem e não a sua versão de batalha. ‘Batman’ é um longa que tecnicamente está irretocável e com a genial direção de Reeves, merece com louvor a primeira nota máxima de nosso espaço do ano de 2022.

Alexandre Carvalho – Editor

Maravilhoso!

Ficha Técnica:
Título: BATMAN (THE BATMAN)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2022 176 min.
Classificação: 14 anos
Gênero: Thriller, Ação
Direção: Matt Reeves
Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig
Produção: Matt Reeves, Dylan Clark, Simon Emanuel, Walter Hamada, Toby Hefferman, Michael E. Uslan, Chantal Nong Vo
Estúdio: Warner Bros., 6th & Idaho Productions, DC Comics, DC Entertainment
Distribuição no Brasil: Warner Bros.
Estréia: 03/03/2022
Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Paul Dano, Jeffrey Wright, John Turturro, Peter Sarsgaard, Andy Serkis, Colin Farrell