Crítica | Capitã Marvel

Prepare-se Thanos, ela chegou! Hollywood vinha há muito tempo tentando emplacar um grande blockbuster com uma heroína mas sem sucesso, vide ‘Supergirl’ (1984), ‘Mulher Gato’ (2004), ‘Elektra’ (2005), ‘Æon Flux’ (2005) e ‘Tomb Raider: A Origem’ (2018), todos grandes desastres (memoráveis) de crítica e bilheteria. Foi somente com ‘Mulher Maravilha’ (Wonder-Woman – 2017) da concorrente DC, que através de uma arrecadação mundial girando os U$ 821,8 milhões e belas reviews, abriu-se novamente outros horizontes para personagens realmente poderosas na telona. ‘Capitã Marvel’ é o primeiro longa da ”casa das ideias” protagonizado de forma solo por uma mulher e além de ter que explicar a origem da heroína e sua ausência ao longo dos 19  filmes do MCU (Marvel Cinematic Universe) ainda, em tese, teria que fazer bonito na bilheteria para ser comparado com o box office da sua rival da DC, Mulher Maravilha. O filme não é necessariamente ruim, mas em nada inova em relação ao que já foi visto nos longas anteriores e claro, se não pertencesse ao universo já muito bem estabelecido da Marvel, seria totalmente descartável pois é inegável que sabermos mais sobre personagens já veteranos desse universo é um grande apelo para o público.

Trazer diretores até então pouco conhecidos para projetos de grandes orçamentos vem sendo uma especialidade da Marvel a qual vem tendo muita sorte nessa arriscada postura pois profissionais como ”Jon” Favreauirmãos Russo, Ryan Coogler James Gunn criaram verdadeiras obras primas nesse segmento e foram responsáveis pela estabelecimento e conexão desse icônico universo. Contudo, parece que dessa vez a direção dos pouco conhecidos Anna Boden e Ryan Fleck (Parceiro de Jogo – 2015) não fez bonito pois temos cenas de lutas medíocres e descartáveis, efeitos CGI mal elaborados que nos tiram da trama (notadamente quando a personagem está no auge de seus poderes) e diálogos bobos e com clichês permeando toda a trama já que o casal também assina o previsível roteiro. A trama do longa, ambientada nos anos 80, baseia-se resumidamente e de forma a não entregar muito aqui, entre a guerra travada pelas raças Kree e Skrull, onde a primeira ”adota” e treina a protagonista que encontra-se totalmente sem memória a cerca de seu passado e origem, contudo, sem trazer a competência vista em roteiros com a mesma linha narrativa como o excelente ‘A Identidade Bourne’ (The Bourne Identity – 2002) e ‘Amnésia’ (Memento – 2000).

Vimos o diretor James Gunn em os ‘Guardiões da Galáxia’ (Guardians of the Galaxy – 2014) se aproveitar da ambientação do filme nos anos 70 e criar uma trilha sonora memorável com faixas icônicas daquela época (Guardians of the Galaxy Vol. I e II) , oportunidade totalmente perdida pelos diretores em ‘Capitã Marvel’ e também por Pinar Toprak, responsável direto por esse aspecto no longa em questão. Agora, pasmem, vemos o personagem Nick Fury, (Samuel L. Jackson) em início de carreira, sendo o alívio cômico do filme e juntamente com a melhor amiga da protagonista Carol Danvers (Brie Larson), Maria Rambeau (Lashana Lynch) são indiscutivelmente as molas propulsoras da trama e os melhores em cena. Um dos (poucos) acertos do filme é flertar, mas sem confirmações nítidas, sobre a possibilidade da sexualidade da personagem título ser homossexual pois a dinâmica entre Carol Danvers Maria Rambeau poderia render um romance sim, o que seria interessante e inédito nesse segmento de super-heróis na telona. Outro ponto que merece destaque no raso roteiro é que aqui inexiste um par romântico masculino pois a heroína não tem interesse amoroso com nenhum outro personagem do filme o que de fato, quebra um pouco aquela velha hegemonia de sempre termos que ter um ‘casalzinho’ em cena.

Ainda sobre Nick Fury (Samuel L. Jackson), aqui muito bem  rejuvenescido pela computação gráfica, descobrimos o motivo do famoso tapa-olho, pena que a cena trará grandes decepções ao público que certamente esperaria algo mais dramático e memorável, o que não ocorreu. A verdade é que nada em ‘Capitã Marvel’ é de fato memorável e até o design de produção que poderia ser magistralmente apresentado já que estamos nos deparando com civilizações alienígenas, somente nos mostra cenários artificiais e apressadamente construídos ou gerados digitalmente. Já a excelente atriz Brie Larson, aqui nitidamente prejudicada pelo roteiro e direção, (sim, mal conduzida destroem atuações, sorte que o contrário também ocorre) traz a personagem Carol Danvers em uma jornada de autodescoberta que não empolga e mesmo na pele da heroína já com todo seu potencial (forma binária) liberado, não convence da forma que deveria. Até mesmo o traje principal, apesar de nos remeter pelas cores ao exibido nos quadrinhos mais recentes, parece artificial demais e os figurinistas e diretores deveriam realmente ter mostrado algo mais orgânico e que se destacasse visualmente na produção. Talvez mesmo o maior pecado de ‘Capitã Marvel’ seja não ousar, já que o filme aposta no ‘mais do mesmo’, valendo-se das fórmulas já estabelecidas dos filmes anteriores sem agregar nada de novo; nadinha.

Esse terreno seguro optado pela direção e roteiristas ao passo que entrega um filme redondo, pode frustar aquela audiência ávida por novidades e acostumada a achar que o ‘próximo’ filme sempre trará aquela inovação em uma cena memorável. Penso que dependendo da bilheteria mundial do longa, a Marvel Studios irá optar por uma sequencia, ou simplesmente deixar a personagem como uma coadjuvante de luxo em outras produções mais ou menos como o que já ocorre com o Hulk e vem funcionando apropriadamenteAgora, o que não podemos negar é que ‘Capitã Marvel’ é um filme divertido e também leve e que talvez se não carregasse tanta responsabilidade nas costas – não é para todos anteceder Vingadores: Ultimato e amarrar algumas pontas soltas – poderia ser outro marco das super-heroínas na telona. ‘Capitã Marvel’ possui duas excelentes e imperdíveis cenas pós-crédito, então nada de sair da sala antes de conferí-las inteiramente.

Alexandre Carvalho – Editor

 Bom

Ficha Técnica:
Título: CAPITÃ MARVEL (CAPTAIN MARVEL)
País/Ano/Duração: Estados Unidos , 2019 , 128 min.
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Direção: Anna Boden, Ryan Fleck
Roteiro: Anna Boden, Gene Colan, Liz Flahive, Ryan Fleck, Meg LeFauve, Carly Mensch, Nicole Perlman, Geneva Robertson-Dworet, Roy Thomas
Produção: Stan Lee, Kevin Feige, Victoria Alonso, Louis D’Esposito, Mary Livanos, Jonathan Schwartz, Lars P. Winther
Estúdio: Marvel Studios
Distribuição no Brasil: Walt Disney / Buena Vista
Estréia: 07/03/2019
Elenco: Brie Larson, Algenis Perez Soto, Annette Bening, Ben Mendelsohn, Clark Gregg, Colin Ford, Connor Ryan, DaJuan Rippy, Damon O’Daniel, Danny Wendt, DJ Jenkins, Djimon Hounsou, Gemma Chan, Jude Law, Kenneth Mitchell, Lashana Lynch, Lee Pace, Mckenna Grace, Robert Kazinsky, Rune Temte, Samuel L. Jackson