Crítica | Alita: Anjo de Combate

Baseado no mangá Gunnm (“Gun-Mu”, algo como ‘A Arma dos Sonhos’, 銃夢), de Yukito Kishiro‘Alita: Anjo de Combate’ se passa no ano de 2563 onde um cientista de robótica chamado Dr. Dyson Ido encontra os restos de uma ciborgue abandonado em uma sucata e decide lhe dar um corpo e trazê-la a vida. O roteiro é bem simples e linear e no primeiro ato descobrimos que aquela inocente ”jovem” possui uma antiga mas inigualável programação para o combate. A partir daí conhecemos, do ponto de vista da protagonista, a sociedade atual que basicamente dividi-se entre a Cidade de Ferro onde a trama se desenrola e tomamos conhecimento muito superficial de Zalem, uma cidade flutuante feita para poucos ”eleitos” onde todos os demais sonham em ascender. A robótica é algo normal onde raros humanos não possuem partes biônicas em seus corpos e fica aqui o registro que os robôs no longa respiram e se alimentam. Finalmente, a sociedade ainda baseia-se na adoração de uma violenta disputa esportista chamada Motorball onde os ricos e poderosos, controlando os bastidores do esporte, distraem os cidadãos da Cidade de Ferro. As sequencias dessa disputa, apesar de bem realizadas, em nada acrescentam a trama e apenas funcionam como uma desculpa para vermos as habilidades da personagem e isso apresenta-se como uma falha dispensável no roteiro. Os designers de produção Caylah Eddleblute e Steve Joyner criaram com primazia toda uma sociedade futurística decadente e híbrida entre humanos e robôs que de tão viva e real funciona como um personagem. Mas sem sombra de dúvida o ponto alto do filme é realmente a personagem título feita totalmente de CGI (computação gráfica) que se não fosse por seus olhos propositadamente aumentados (estilo mangá) esqueceríamos que ali estava uma personagem digital. A captura de movimentos ocorreu pela talentosa atriz americana de 34 anos, Rosa Salazar, a qual transpôs seus gestos e expressões para Alita resultando em uma interação entre atores reais e digitais que beira a perfeição, criando algo a ser imitado (ou pelo menos tentado) em futuras produções.

Nessa linha de acertos do longa, fica a bela direção de Robert Rodriguez já que demasiadamente ocupado com as quatro sequencias de ‘Avatar’James Cameron (Titanic – 1997) apenas figura como Produtor Executivo da película. Robert Rodriguez soube muito bem conduzir todos os aspectos técnicos do filme além de evitar os famigerados cortes nas sequencias de ação, as quais fluem com perfeição no desenrolar natural do longa. Planos bem abertos dão conta do recado e belas e pontuais câmeras lentas, necessárias para não perdermos nem um detalhe da ação, passam a sensação de que Cameron andou realmente dando uns ”conselhos” ao diretor ”gore” Robert Rodriguez (Um Drink no Inferno – 1996). O elenco está afinado e conta com belos nomes de peso de Hollywood como o poliglota ator Christoph Waltz no papel  de Dyson Ido,criador de Alita e que se afeiçoa a ela por ter perdido tragicamente sua filha da mesma ”idade”. Desperdício foi o pouco desenvolvimento da relação entre o personagem Dyson com sua ex-esposa Chiren, papel de Jennifer Connelly que inicia-se de forma interessante mas depois o roteiro trata de ignorar totalmente essa dinâmica. Contudo, o ator menos aproveitado foi mesmo o aclamado Mahershala Ali, que depois da magistral atuação em ‘Green Book: O Guia’ (2018) nos entrega um vilão unidimensional, descartável e nitidamente prejudicado pelo roteiro, que se retirado da trama, não a alteraria em absolutamente nada. Finalmente, temos ator genérico Keean Johnson que faz o par romântico com a protagonista, se mostrando pouco a vontade em uma grande produção além de que a química entre o casal ser a mesma que haveria entre um argentino e brasileiro durante uma partida de futebol. A ”relação” dos pombinhos não convence nem emociona a ninguém e para piorar o que já estava essencialmente forçado, as linhas de diálogos nos momentos de romance são cafonas e recheadas de clichês, onde pasmem, nem a protagonista literalmente entregando seu coração ao rapaz salva do desastre esses superficiais e descartáveis momentos.

terceiro ato do filme (todos bem delimitados no longa) entrega ao telespectador talvez o que seja seu maior pecado: falta de um clímax. Vários longas anunciam já uma vindoura sequencia em alguns momentos finais, contudo, isso não implica necessariamente em não termos um desfecho a altura do que foi mostrado anteriormente. ‘Alita: Anjo de Combate’ tem seu final de uma maneira que frusta a audiência e por pouco não coloca tudo de bom a perder pois os créditos sobem na telona de forma totalmente deslocada. Certamente, se tivermos uma grande bilheteria mundial, veremos a personagem se dirigindo a cidade alta de Zalem para desvendar o mistério de seu passado de combate, ao passo que ocorrerá o inevitável embate com o vilão principal Nova (rapidíssima participação de Edward Norton) pois o filme optou por adaptar somente a primeira parte do mangá Yukito Kishiro, deixando propositadamente muito material de fora. Durante todo o filme é nítido o zelo e carinho que os produtores e diretores tiveram com o material original e é sempre prazeroso para nós comprovamos quando temos unidos no mesmo projeto qualidade técnica e respeito aos criadores. Começamos o ano de 2019 com esse grande lançamento que é ‘Alita: Anjo de Combate’ pois esse blockbuster revolucionário elevou o nível da computação gráfica para patamares que talvez somente vejamos novamente na ocasião das estreias de ‘Avatar’ partes II,IIIIV e V.

Alexandre Carvalho – Editor

 Muito bom

Ficha Técnica:
Título: ALITA: ANJO DE COMBATE (ALITA: BATTLE ANGEL)
País/Ano/Duração: Canadá, Estados Unidos, 2018, 122 min.
Classificação: 14 anos
Gênero: Ação, Aventura, Ficção Científica
Direção: Robert Rodriguez
Roteiro: James Cameron, Laeta Kalogridis, Robert Rodriguez
Produção: James Cameron, Jon Landau, Robert Rodriguez
Estúdio: Twentieth Century Fox, Lightstorm Entertainment, Troublemaker Studios, TSG Entertainment
Distribuição no Brasil: Fox Film do Brasil
Estréia: 14/02/2019
Elenco: Jasper Van Dien, Christoph Waltz, Derek Mears, Ed Skrein, Eiza González, Rosa Salazar, Idara Victor, Jackie Earle Haley, Jeff Fahey, Jennifer Connelly