Crítica I Oppenheimer
A parceria entre Christopher Nolan e Cillian Murphy – que remonta desde ‘Batman Begins’ (2005) – vem mesmo dando muito certo. Agora, no longa ‘Oppenheimer’, o diretor e ator em uma grande sintonia nos brindam com os bastidores do Projeto Manhattan que objetivava a fabricação da Bomba Atômica (Bomba H) que foi testada com sucesso no Novo México e lançada em Hiroshima e Nagasaki, culminando com a rendição dos Japoneses e o final da segunda grande guerra. O ator Cillian Murphy interpreta o físico J. Robert Oppenheimer que liderou o histórico projeto, mas quem de fato rouba a cena é Robert Downey Jr. na pele do antagonista Lewis Strauss que por justiça, já adianto que lhe valeria pelo menos uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante por seu melhor trabalho depois de ‘Chaplin’ (1992). É necessário ressaltarmos inicialmente que filmado em apenas 57 (cinquenta e sete) dias, ‘Oppenheimer’ é fruto do fascínio do diretor e roteirista Christopher Nolan (Tenet – 2020; Batman: O Cavaleiro das Trevas – 2012; Dunkirk – 2017) pelo livro biográfico vencedor do Prêmio Pulitzer, ‘American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer’, publicada em 2006 por Kai Bird e Martin Sherwin. O longa é denso, com várias tramas e jogos políticos, sem contar que a maioria do público é leigo quando o assunto versa sobre física avançada, entretanto, o roteiro bem montado faz dos 180min. de projeção algo bastante prazeroso. ‘Oppenheimer’ contudo, requer que o espectador já tenha intuitivamente algum gosto ou mínima curiosidade pelo tema da segunda grande guerra pois alguém totalmente avesso ou desinteressado pelo tema certamente achará a produção longa e enfadonha.
O enredo de ‘Oppenheimer’ retrata o momento histórico em que os EUA, obrigados a entrarem na guerra após a tragédia de Pearl Harbor, tentam construir um artefato nuclear antes dos nazistas e para isso contratam o já famoso físico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) para liderar uma equipe em Los Alamos (Novo México) com esse objetivo. O projeto foi um ‘sucesso’ como a história mostrou, contudo, a produção se estende também para os fatos após a decisão de detonação da bomba onde o patriotismo do cientista Robert Oppenheimer é ardilosamente questionado por seu envolvimento com partidos de esquerda. De aclamado herói da nação a vilão com associações duvidosas, a história aborda todos os aspectos mais relevantes da história do controverso cientista deixando claro o posicionamento do diretor em relação a tudo isso. Tecnicamente o longa é primoroso, onde o diretor-roteirista prefere que todos os efeitos sejam práticos e o uso de CGI seja mínimo ou inexiste, prova disso foi a explosão real da primeira bomba-teste na locação do Novo México. Filmado totalmente com as gigantescas câmeras IMAX®, a produção deve ser vista preferencialmente nesse formato de Som e Imagem pois somente assim o impacto e imersão serão sentidos da forma originalmente idealizada por Nolan.
Engana-se o expectador que vai conferir ‘Oppenheimer’ achando que vai ver a recriação dos históricos e grandiosos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki – propositadamente apenas citados na trama – pois ‘Oppenheimer’ nunca teve a intenção de se firmar como um blockbuster avassalador que tenha apelo para o público de 8 a 80 como ‘Jurassic Park’ (1993) e ‘Avatar’ (2009). Por cenas de nudez, o longa recebeu nos EUA a classificação R (Restricted) e no Brasil a censura de 18 anos. ‘Oppenheimer’ foi idealizado para ser apreciado como um livro contato com imagens e sons, para refletirmos sobre temas como ética, causa-consequência e se de fato tudo vale em nome do que se convencionou a ser chamado de ‘um bem maior’. Ainda sob o efeito da crise de Hollywood herdada desde a pandemia – e atualmente pela greve de atores e roteiristas -, que maravilhoso é nos depararmos com produções, diretores e estúdios que se aventurem em um projeto arriscado financeiramente em prol de se contar uma bela história em um período que moldou o mundo em que vivemos atualmente. Para ‘Oppenheimer’, com louvor, dou a nota máxima de nossa classificação.
Alexandre Carvalho – Editor
Maravilhoso!
Ficha Técnica:
Título: OPPENHEIMER (IDEM)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2023, 180 min.
Classificação: 18 anos
Gênero: Drama
Direção: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Produção: Christopher Nolan, Emma Thomas, Charles Roven
Estúdio: Universal Pictures
Distribuição no Brasil: Universal Pictures Brasil
Estreia: 20/07/2023
Elenco: Cillian Murphy, Florence Pugh, Jack Quaid, Matthew Modine, Matt Damon, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Gary Oldman, Rami Malek, Gustaf Skarsgard, Dane DeHaan, Jason Clarke e Casey Affleck