Crítica I John Wick 4: Baba Yaga

Incrível como o filme original de John Wick (John Wick – De Volta ao Jogo – 2014) criou um novo conceito nos filmes de ação e com isso fez brotar uma legião de fãs que se encantaram com aquela sociedade secreta de assassinos underground coexistindo com suas próprias regras bem debaixo de nossos narizes. A entrega de Reeves ao papel título foi total, tanto na parte do treinamento com armas como nas cenas de luta de mãos vazias e a cada continuação esse patamar era elevado pelo diretor Chad Stahelski o qual foi dublê de Reeves na franquia Matrix. Por falar em lutas, agora o anti-herói se vale muito de suas pernas para finalizações, lembrando claramente o estilo de luta da Vingadora Viúva Negra da Marvel interpretada pela atriz Scarlett Johansson. Nesse quarto capítulo, John Wick continua sua saga de vingança contra a Alta Cúpula, contando com velhos e novos aliados em várias belas locações ao redor do mundo como Berlim, Japão, Paris e Nova York, tudo com uma majestosa fotografia que já virou marca da franquia. Para os aficionados por armas, Wick no terceiro ato utiliza uma nova pistola lançada em 2023 que nos EUA custa impensáveis U$ 7.000 do modelo TTI Pit Viper 1000 (foto) que com os impostos e variação do câmbio não arrisco por quanto chegaria aqui para os brasileiros – afortunados – importadores.

A ação continua desenfreada e não sentimos o tempo passar – lembrando um game de tiro com fases e chefões – entretanto, a edição poderia ter cortado uns 20min da produção sem comprometer a trama já que, entre outras, a sequencia de perseguição a cavalo no deserto ficou um pouco fora de contexto. O ponto alto dessa ação é um plano sequencia sem cortes onde o diretor posiciona a câmera em uma posição acima dos compartimentos onde assistimos a matança – com direito a munição ‘bafo do dragão’ – com uma visão como se estivéssemos apreciando uma planta baixa de um imóvel; magnífico! Os efeitos especiais continuam super discretos já que a produção sempre priorizou os efeitos práticos, e notamos o CGI somente no clarão dos disparos das armas – que por segurança a maioria dos filmes não utiliza mais as perigosas balas de festim – e em alguns automóveis digitais durante perseguições no trânsito do Arco do Triunfo em Paris.

O elenco liderado por Keanu Reeves – cada vez mais a vontade no papel – contou com adições de origem oriental para talvez fazer um apelo maior na audiência asiática como os icônicos atores Donnie Yen (O Grande Mestre) e Hiroyuki Sanada (Mortal Kombat), inimigo e aliado de Wick respectivamente. Irreconhecível em um traje de aumento de peso está o ator e artista marcial Scott Adkins o qual na pele do vilão Killa, pela primeira vez em sua carreira, demonstra um certo talento para interpretação que poderia até render um spin-off da franquia se não fosse o seu final trágico nesse quarto capítulo, muito embora roteiros possam sempre voltar no tempo em prequências.

O roteiro dessa continuação faz um trabalho mediano e nele reside o maior problema da produção justamente pela sua previsibilidade e simplicidade na resolução de questões complexas, razão pela qual continuo preferindo o longa original de 2014 muito embora a cada sequencia mais locações e orçamentos volumosos sejam adicionados. O terceiro ato de ‘John Wick 4: Baba Yaga’ é ousado e controverso, notadamente em seu desfecho o que pode frustrar alguma audiência que naturalmente estaria aguardando algo diferente. Ainda sobre o final do longa, não imagino que nas famosas exibições testes – usualmente realizadas pelos estúdios – alguém da audiência tenha de fato concordado e aplaudido a decisão adotada pela direção e roteiristas e me surpreendeu essa discutível manutenção na versão final. Com um rico universo criado no primeiro longa e bastante ampliado nos demais, não me surpreenderia com filmes derivados de personagens e/ou séries para a TV do mundo dos assassinos profissionais. ‘John Wick 4: Baba Yaga’ é um filme onde a ação se sobrepõe à narrativa muito embora em uma boa história vislumbremos justamente a narrativa justificando eventuais cenas de ação, contudo, caso o espectador não venha a se importar com isso, basta se segurar na poltrona e se divertir com quase três horas de excelentes tiroteios.

Alexandre Carvalho – Editor

Bom

Ficha Técnica:
Título: JOHN WICK 4: BABA YAGA (JOHN WICK: CHAPTER 4)
País/Ano/Duração: EUA, 2023, 169 min.
Classificação: 14 anos
Gênero: Ação, Aventura
Direção: Chad Stahelski
Roteiro: Michael Finch, Shay Hatten
Produção: Basil Iwanyk, Erica Lee, Chad Stahelski
Estúdio: Summit Entertainment, Thunder Road Pictures, 87Eleven Productions
Distribuição no Brasil: Paris Filmes
Estreia: 23/03/2023
Elenco: Keanu Reeves, Donnie Yen, Bill Skarsgård, Laurence Fishburne, Hiroyuki Sanada, Shamier Anderson, Lance Reddick, Clancy Brown, Scott Adkins