Crítica I 007 – Sem Tempo para Morrer
Se você não mora em Marte ou não é extremamente novo, deve saber quem é James Bond, o agente secreto 007 com licença para matar criado por Ian Fleming em 1953. A estreia do agente britânico na telona ocorreu em 1962 na pele do ator Sean Connery (1962–1967-1971/1983) e chegamos ao 25° filme da franquia com o ator Daniel Craig no papel principal. Craig inaugurou um Bond da era moderna com o perfeito ‘Cassino Royale’ (idem – 2006) trazendo um agente visceral e mais realista, usando tudo ao seu alcance para vencer seus adversários com rapidez, violência e muito carisma. As feições do ator Daniel Craig não são afiladas e harmônicas (apesar de seus icônicos olhos azuis) e justamente essa masculinidade palpável, sendo um homem mais real, aliado a roteiros que não fazem de Bond um Super-Homem, trouxe ao personagem mais credibilidade e seriedade o que agradou em cheio ao maduro público dessa geração. Sem nenhum segredo, ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ será a última encarnação de Bond feita por Craig, onde o ator por diversas oportunidades, de fato, confirmou que estaria deixando a franquia após este filme. Dirigido pelo competente Cary Joji Fukunaga (Beasts of No Nation – 2015), o longa ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ é uma continuação dos eventos ocorridos nos filmes anteriores de Daniel Craig ao passo que também traz inúmeras referências e homenagens às produções de décadas passadas, razão pela qual a experiência completa se dará quando o expectador pelo menos acompanhou a jornada iniciada em ‘Cassino Royale’ (idem – 2006) pois, caso contrário, este estará apenas assistindo a um excelente filme de ação.
O bom roteiro de ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ traz Bond sendo obrigado a sair de sua aposentadoria a pedido de seu velho amigo da CIA, Felix Leiter (Jeffrey Wright) para enfrentar uma ameaça com repercussão global arquitetada pelo desfigurado vilão Safin (Rami Malek) ao passo que o protagonista também tenta desvendar uma cadeia de eventos de natureza familiar. Uma pena que justamente o filme de maior duração de toda a franquia (cerca de 2h 43m) tenha trazido tão pouco tempo de tela para o vilão (culpa da edição?) pois depois de ter ganhado o Oscar por Melhor Ator interpretando Freddie Mercury em ‘Bohemian Rhapsody’ (idem – 2018), Rami Malek tenta trazer motivações e profundidade ao personagem com o que é disponibilizado a ele. As novas ‘bond girls’, Ana de Armas e Lashana Lynch, são igualmente competentes pois, além de usualmente lindas, são também letais e dão conta do recado realmente ajudando – e até salvando o protagonista da morte – em diversas situações. Para alegria dos fãs, ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ continua sendo realmente ‘um filme de Bond’, com as usuais locações em várias partes do mundo, cenas de ação de tirar o fôlego e claro, elementos de espionagem e intrigas internacionais que podem resultar na morte de milhões de inocentes.
A trilha sonora ficou a cargo, pela primeira na famosa franquia, do talentoso e icônico Hans Zimmer, tendo na composição e interpretação da música tema ‘No Time to Die’ a revelação Billie Eilish, onde essa faixa já havia sido estrategicamente revelada ao público há cerca de um ano. Nessa despedida de Craig, ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ traz algo inédito e controverso na franquia de 40 (quarenta) anos, mas não sabemos se de fato esse arriscado direcionamento irá agradar ao grande público. É vital para o espectador entender que a era Craig possui 5 (cinco) filmes com a trama conectada como se fosse um grande filme de mais de 10 (dez) horas, diferentemente do que ocorria nas encarnações anteriores do personagem as quais apesar de manter o mesmo ator, apresentavam aventuras totalmente desconexas. Nessa senda, o controverso final de ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ deverá ficar mais aceitável (espero) já que este deverá ser considerado como sendo um encerramento de uma longa história, pena que o público novato que verá o longa de forma isolada jamais terá essa compreensão global. Ainda nesse clima de fechamento de um ciclo, várias indagações começam a surgir, começando por quem deverá encarnar o próximo James Bond, indo até a uma possível reinvenção (ou não) da franquia para que esta continue despertando o interesse das próximas gerações e ditando os rumos na telona de cenas de extrema ação. Acredito que ‘007 – Sem Tempo para Morrer’ cumpriu seu papel de forma muito competente, respeitando o legado do extremamente bem pago Daniel Craig, ao passo que fechou todas as pontas soltas da complexa trama iniciada ainda em 2006. E lembre-se que ao pedir seu Dry Martini, faça como James Bond e diga ao barman: ‘batido, não mexido…’!
Alexandre Carvalho – Editor
Muito Bom
Ficha Técnica:
Título: 007 – SEM TEMPO PARA MORRER (NO TIME TO DIE)
País/Ano/Duração: EUA, Reino Unido, 2021, 163 min.
Classificação: 14 anos
Gênero: Ação, Aventura
Direção: Cary Joji Fukunaga
Roteiro: Cary Joji Fukunaga, Neal Purvis, Robert Wade, Phoebe Waller-Bridge
Produção: Daniel Craig, Per Henry Borch, Chris Brigham, Barbara Broccoli, Andrew Noakes, David Pope, Enzo Sisti, Natalie Thompson, Gregg Wilson, Michael G. Wilson
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer, Universal Pictures, Eon Productions , B25, Cinesite, Danjaq
Distribuição no Brasil: Universal Pictures
Estréia: 30/09/2021
Elenco: Daniel Craig, Rami Malek, Léa Seydoux, Lashana Lynch, Ben Whishaw, Naomie Harris, Jeffrey Wright, Christoph Waltz, Ralph Fiennes, Rory Kinnear, Ana de Armas, Dali Benssalah, David Dencik, Billy Magnussen
Análise perfeita! Parabéns