Crítica | Projeto Gemini
Poucos sabem que o longa ‘Projeto Gemini’ demorou cerca de 10 anos para finalmente chegar as telonas simplesmente pela tecnologia CGI do passado não se apresentar a altura para realizar com primazia toda a narrativa trazida em um roteiro raso mas desafiador em termos de computação gráfica. Sim, como os trailers e cartazes já deixaram bem claro, o protagonista do filme deveria lutar com sua versão 30 anos mais jovem e convencer o espectador que se tratava realmente de duas pessoas duelando. Vale lembrar que se isso falhasse, colocaria a perder todo o resto, ainda que os demais aspectos do longa fossem realmente perfeitos. A tarefa de dirigir algo tão singular foi entregue ao experiente Ang Lee, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por ‘O Tigre e o Dragão’ (2001) e pelas direções em ‘O Segredo de Brokeback Mountain’ (2006) e o aclamado ‘As Aventuras de Pi’ (2013). O diretor, além de se preocupar com a necessidade de rejuvenescimento do sempre carismático Will Smith, optou igualmente por inovar através de um formato de projeção de 60 quadros por segundo – mais do que o dobro da taxa tradicional de quadros do cinema (24 quadros) – dando ao público uma experiência em 3D amplificada e uma experiência única de imersão. Com imagens 3D projetadas a 60 quadros por segundo (de uma master originalmente filmada a 120 quadros por segundo) mostra imagens mais próximas do que nunca para aquilo que o olho humano está vendo, colocando o espectador no centro da ação, dependendo é claro, se a sala de exibição suportar esse formato de imagem e áudio. Foi revelado que somente 14 salas nos EUA exibirão o filme na configuração máxima original que ele foi gravado. No Brasil? Duvido que exista alguma sala que o exiba nos 120 fps! Esse formato que entendemos ser revolucionário notadamente para filmes de ação, é chamado de 3D+, onde realmente os 60 quadros por segundo fazem toda a diferença do mundo em termos de qualidade. Para os cinéfilos, o termo “60 FPS” (ou 60 quadros por segundo) pode soar como uma novidade, mas para a comunidade gamer é algo corriqueiro e desejável pois um jogo que roda com essa performance é garantia de fluidez nas imagens e precisão nos combates seja no modo singleplayer (modo história) ou nas disputas online dos multiplayers.
Sobre o enredo do filme, já devidamente entregue pelos trailers, o recém aposentado assassino Henry Brogan (Will Smith) é perseguido por sua versão clonada mais jovem pois a agência que o treinou acredita que ele sabe demais e por isso deve ser eliminado, simples assim. O primeiro e segundo atos do filme funcionam razoavelmente bem, entretanto, o famigerado terceiro ato põe muita coisa a perder justamente como vem acontecendo nos últimos desfechos de filmes de Hollywood; será a Maldição do terceiro Ato atacando novamente? O fato é que se tirarmos o sempre bom Will Smith do papel de protagonista e a tecnologia inovadora de 60 fps de ‘Projeto Gemini’ resta muito pouco a ser realmente aproveitado do longa. Nas cenas de ação, o diretor Ang Lee consegue convencer a audiência que estamos vendo dois Henry Brogan em uma perseguição ou luta, contudo, em cenas de diálogos quando a câmera fecha no rosto do personagem da versão mais jovem, nos deparamos com um CGI medíocre que tira a atenção da plateia para o que está sendo dito a qual passa a reparar nas imperfeições das expressões da deplorável maquiagem digital aplicada. Quando isso ocorre, o CGI fracassa incontestavelmente e até excelentes roteiros (o que não é o caso) naufragam pois não foram transportados como deveriam para a tela. O elenco de apoio faz o possível nas interações com o protagonista e destacamos a presença do ator que faz o alívio cômico, Benedict Wong, conhecido por interpretar o feiticeiro ‘Wong’ em ‘Doutor Estranho’ (Doctor Strange – 2016) e a mal aproveitada Mary Elizabeth Winstead, que será vista no vindouro ‘Aves de Rapina’ (Birds of Prey – 2020), contracenando com Margot Robbie (Arlequina). O vilão interpretado pelo ‘quase’ James Bond, Clive Owen, é unidimensional, não convencendo de sua frieza e manipulação e tampouco de suas mais que óbvias motivações, onde o ator parece somente estar ligado no automático, sem de fato ‘vestir a camisa’ do projeto. A narrativa aqui abusa da inteligência do telespectador, repetindo informações e entregando um desenrolar mais que previsível. A audiência não tem tempo para se importar com ninguém, nem mesmo com o drama pessoal do protagonista e se não fossem as cenas de ação executadas em 60 quadros, ‘Projeto Gemini’ poderia, sem injustiça alguma, ser comparado ao tenebroso ‘Cópias – De Volta à Vida’ (Replicas – 2018) estrelado por Keanu Reeves. ‘Projeto Gemini’ funciona bem para os futuros diretores/produtores saberem da existência dessa nova ferramenta de 3D+ para quem sabe, ser utilizada em futuras produções do gênero, mas como filme de ação não é superior aos similares exibidos largamente nas décadas de 80 e 90, só que sem a mesma originalidade. No fim das contas, nem uma tecnologia inovadora, um diretor talentoso e a escalação de um astro do momento para encabeçar o projeto, conseguem salvar ‘Projeto Gemini’ de ser uma colcha de retalhos, mal remendada, diga-se de passagem.
Alexandre Carvalho – Editor
Regular
Ficha Técnica:
Título: PROJETO GEMINI (GEMINI MAN)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2019, 117 min.
Classificação: Livre
Gênero: Ficção Científica, Ação
Direção: Ang Lee
Roteiro: Billy Ray, Jonathan Hensleigh, Darren Lemke, Andrew Niccol, Stephen J. Rivele, Christopher Wilkinson, David Benioff
Produção: Jerry Bruckheimer, Brian Bell, Andrés Calderón, David Ellison, Michael Fottrell, Dana Goldberg, Don Granger, Don Murphy, Chad Oman, Will Smith, Mike Stenson
Estúdio: Fosun Group Forever Pictures, Jerry Bruckheimer Films, Overbrook Entertainment, Skydance Media
Distribuição no Brasil: Paramount Pictures
Estréia: 10/10/2019
Elenco: Will Smith, Clive Owen, Mary Elizabeth Winstead e Benedict Wong