Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa
E finalmente chegamos ao final da Fase 3 da Marvel! Sim, essa fase não teve seu desfecho, como muitos pensavam, com o excelente ‘Vingadores: Ultimato’ mas agora com ‘Homem-Aranha: Longe de Casa’. O todo poderoso da Marvel Studios, Kevin Feige já havia relatado que gostaria de fechar essa fase com o Herói da Vizinhança pois a relação entre Peter Parker (Tom Holland) e Tony Stark (Robert Downey Jr.) era muito sólida e merecia um desfecho onde o primeiro pudesse provar que poderia seguir adiante sem a presença de seu querido mentor. O longa se passa logo após o retorno das pessoas desaparecidas com o estalo do Thanos, aqui chamado de blip, onde com humor vemos indivíduos ausentes por 5 (cinco) anos tendo que se adaptar a nova convivência com parentes e amigos pois os recém chegados não envelheceram durante esse período. Tom Holland atualmente com 23 anos está muito a vontade em seu papel dos sonhos interpretando um jovem de apenas 16, agora nos entregado um Peter que deseja levar uma vida normal com amigos e seu interesse amoroso ao passo que sente muita pressão em carregar o legado de seu tutor que deixa um artefato muito poderoso aos cuidados do personagem. Nesse contexto de proposital incompatibilidade entre o prazer e o dever trazida pelo roteiro, vemos a chegada de Mistério (Jake Gyllenhaal) que logo de início impressiona positivamente o protagonista, mas como todos já sabem pelos quadrinhos e cartoons, irá se revelar o grande vilão de ‘Homem-Aranha: Longe de Casa’. Podemos dizer sem sobra de dúvida que Gyllenhaal nos brinda com o melhor vilão de todos os filmes do Homem-Aranha, com grandes motivações e um intrigante carisma, marca dos melhores antagonistas vistos na telona. Quem ganha bem mais tempo em cena é a atriz-modelo Zendaya que faz uma MJ sarcástica mas genérica, talvez devido a sua pouca experiência em Hollywood mas que, pasmem, motiva grande parte das decisões do protagonista na trama.
Tecnicamente, ‘Homem-Aranha: Longe de Casa’ e bastante competente e manter o diretor do primeiro longa, Jon Watts, se mostrou uma decisão acertada. O CGI é irretocável com destaque a uma cena de luta entre o Homem-Aranha e Mistério em um ambiente de ilusões, tirada praticamente dos desenhos animados, aqui recriada magistralmente. O filme traz uma infinidade de referências, inclusive homenageia o longa original dirigido por Sam Raimi (Homem-Aranha – 2002) em famosa e bem mais realista cena onde o casal principal passeia de teia pelos prédios da cidade. Entretanto, a maior homenagem a Raimi foi deixada para a primeira cena pós-crédito (sim, temos uma segunda) onde de forma inacreditável vemos um ‘retorno’ que aprecia muito improvável. O famoso humor e piadas do herói ao enfrentar seus inimigos que ficaram famosas nas HQs e desenhos animados continua ausente dos diálogos da trama pois um Peter Parker sob muita pressão, sempre preocupado e tristonho, talvez não tenha deixado muito espaço para isso no roteiro. O alívio cômico ficou então a cargo de seu amigo Ned Leeds (Jacob Batalon) e claro, de ‘Happy’ Hogan (Jon Favreau) o qual faz o link entre o personagem principal e a mão sempre invisível de Tony Stark. Da mesma feita, sentimos a falta nos filmes do Homem-Aranha da genialidade de Peter como estudante brilhante o qual usa sua incrível inteligência para derrotar inimigos fisicamente mais fortes e quem sabe isso será mostrando em um possível crossover com o filme ‘Venom’ o qual mesmo desacreditado, fez bonito nas bilheterias mundiais arrecadando quase 1 bilhão de dólares. A verdade é que o Homem-Aranha da Marvel desde sua aparição em 2016 no longa ‘Capitão América: Guerra Civil’ (com aquela icônica entrada aérea) já foi idealizado para ser um pupilo de Stark, portanto, já fazendo uso de trajes com muita tecnologia o que o fã mais antigo de HQs sempre terá uma certa resistência em aceitar pois muito do apelo original do herói era o de usar somente seus poderes e inteligência para vencer no final.
Quem sabe daqui a alguns anos teremos um novo Homem-Aranha, ‘desnudado’ de aparatos tecnológicos e bem mais próximo do que Stan Lee idealizou na ocasião de sua primeira aparição na Amazing Fantasy #15 em 1962. Por falar em Stan Lee, ele ainda é creditado como produtor do longa, entretanto, não vemos mais sua esperada participação e com seu falecimento a volta de Lee, caso ocorra em um dia, será necessariamente por computação gráfica. Finalmente, temos o retorno de Nick Fury (Samuel L. Jackson) que sabota os planos de férias do herói ao ponto de passar a controlar, a um certo momento, todo o desenrolar da excursão escolar da Europa (daí o motivo do título) mas sem explicar ao certo de onde viriam os recursos necessários para Fury ainda ter essas facilidades como veículos, staff, equipamentos, etc. ‘Homem-Aranha: Longe de Casa’ é um filme que dá conta do recado quando mostra a evolução do personagem título tendo que tomar grandes decisões (algumas delas para corrigir seus próprios erros) em uma idade que um adolescente normal de forma proporcional também estaria lidando com esses questionamentos (carreira profissional a seguir, sexualidade, etc) e que possui um discutível desfecho que certamente exigirá muito do Herói da Vizinhança em um já (quase) certo terceiro capítulo. Sem nunca ser dita explicitamente, a famosa frase ‘com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades’ acaba sendo realmente a mola propulsora da trama a qual nos entrega um excelente filme de fantasia e aventura que será apreciado por antigas e novas gerações.
Alexandre Carvalho – Editor
Muito bom
Ficha Técnica:
Título: HOMEM-ARANHA: LONGE DE CASA (SPIDER-MAN: FAR FROM HOME)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2019, 129 min.
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Produção: Stan Lee, Kevin Feige, Victoria Alonso, Eric Hauserman Carroll, Louis D’Esposito, Thomas M. Hammel, Amy Pascal
Estúdio: Sony Pictures Releasing, Columbia Pictures Corporation, Marvel Studios, Walt Disney Pictures
Distribuição no Brasil: Walt Disney Pictures
Estréia: 04/07/2019
Elenco: Tom Holland, Jake Gyllenhaal, Zendaya, Samuel L. Jackson, Marisa Tomei, Jon Favreau, Jacob Batalon