Crítica I Guerra Civil
Abordando uma temática perturbadora, mas atual, o diretor Alex Garland (‘Ex Machina’, ‘Aniquilação’ e ‘Men: Faces do Medo’) nos brinda com o polêmico ‘Guerra Civil’ que trata justamente de um separatismo violento implementado nos EUA o qual está enfrentando uma segunda guerra civil em sua história. O enredo envolve uma travessia dos EUA por quatro jornalistas de guerra, ao passo que demonstram seu amor pela arriscada profissão, também expõe um país dividido onde as instituições desapareceram e é cada um por si na busca pela sobrevivência. Essa abordagem é de fato muito atual pois na realidade estamos vendo notícias do Texas onde existe uma possibilidade, segundo especialistas, de uma guerra separatista em um período de menos uma década naquele país. O elenco principal é liderado por Kirsten Dunst (a eterna Mary Jane da trilogia ‘Homem-Aranha’ original) como a experiente e conceituada repórter fotográfica Lee Smit representando o poder da imprensa a qual pode ter tido um papel importante justamente na eclosão dessa perturbadora crise. Temos também como destaque no longa a presença do ator brasileiro – mas que mora nos EUA – Wagner Moura (‘Tropa de Elite’ 1 e 2), entretanto, seu personagem Joel não acrescenta nada de relevante a trama pois este conta com diálogos rasos e sem explorar a capacidade do bom ator que sempre será lembrado pelo papel de integrante do BOPE, Capitão Nascimento.
Em uma rápida, mas marcante participação, temos a presença do ator e marido na vida real de Dunst, Jesse Plemons, o qual encarna um frio e violento paramilitar que descarta corpos aniquilados no conflito de uma maneira desumana vista somente nos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial e com o dedo no gatilho o personagem profere a intrigante frase: ‘Que tipo de americano você é?’. O diretor Alex Garland, que também aqui é roteirista, não se preocupou em explicar as origens do conflito, apenas revelando que o atual Presidente dos EUA (Nick Offerman) estaria em seu terceiro mandato tendo que lidar com as forças militares insurgentes que encontram-se marchando em direção a Washington-DC, não para capturá-lo, mas sim, para matá-lo. Uma boa abordagem do roteiro foi mostrar, durante a jornadas dos personagens principais, uma cidade que simplesmente ignorou esse conflito, tentando manter uma aparente rotina nas ruas e comércio, onde se não fosse pelos atiradores nos telhados dos prédios, diríamos que se tratava de outro país. Essa cidade ‘fora do tempo e contexto’ nesse inesperado microcosmo retrata a opção e postura de algumas pessoas que negam a realidade quando não podem mudá-la, o que de fato constatamos na vida real em nossa sociedade em contextos similares. A dinâmica de vermos no mesmo veículo três gerações de jornalistas, cada uma com seus pontos fortes e fracos, é de fato o grande acerto do filme pois apesar do objetivo jornalístico ser compartilhado por todos, os meios para consegui-lo são incomensuravelmente distintos. Não posso deixar de citar a importância do som – e em algumas cenas sua total ausência – que o diretor cuidadosamente soube mesclar nas cenas de ação e não seria improvável uma indicação da Academia na premiação de 2025 nessa categoria.
No terceiro ato, o espectador é levado a uma Washington-DC devastada em uma guerra sangrenta a cada quarteirão onde as forças leais ao Presidente tentam barrar de todas as formas os militares de entrarem e tomarem a Casa Branca e assim executarem o líder ditador. Tecnicamente, os consultores militares da produção não fizeram um grande trabalho pois vários erros estratégicos são identificados pelos olhos mais atentos daquele espectador mais familiarizado com a temática, com destaque pela total ausência de um bunker subterrâneo na sede do poder americano o qual já foi amplamente revelado em vários documentários que tratavam de ameaças de bombas naquele local. ‘Guerra Civil’ é antes de tudo um filme corajoso e polêmico que retrata de forma bem próxima da realidade as repercussões sociais de um conflito dessa magnitude e que obrigatoriamente fará o público refletir bem mais sobre o controverso tema. Em termos de diversão é um bom thriller, tenso e visceral, mas que não é para todos justamente pelas cenas perturbadoras – razão pela censura +18 – em sua narrativa. Finalmente, vale destacar, que em dado momento da trama é mostrada de forma perturbadora uma nova bandeira norte-americana, agora trazendo somente duas estrelas, representando o que seriam esses dois territórios remanescentes após essa nova configuração ideológica e geográfica. Com 82% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes – até o momento – o longa parece ter agradado a crítica especializada internacional e tem tudo para repetir o sucesso aqui no Brasil tanto pela temática, como pela participação, claro, de Moura.
Alexandre Carvalho – Editor
Bom
Ficha Técnica:
Título: GUERRA CIVIL (CIVIL WAR)
País/Ano/Duração: EUA, 2024, 109 min.
Classificação: 18 anos
Gênero: Ação, Drama
Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Produção: Gregory Goodman, Andrew Macdonald, Allon Reich
Estúdio: A24, DNA Films, IPR.VC
Distribuição no Brasil: Diamond Films
Estreia: 18/04/2024
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Stephen McKinley Henderson, Nelson Lee, Jesse Plemons