Crítica | Matrix Resurrections

E se passaram 22 (vinte e dois) anos desde que ‘Matrix’ (idem – 1999) abalou o mundo do cinema em 1999, estabelecendo novos padrões de filmagens e efeitos visuais inéditos até a época ao passo que lançavam as diretoras Lana Wachowski e Lilly Wachowski (na época ainda eram chamados de Andy e Larry) para o estrelato. Como o filme original teve um enorme sucesso, foram feitas duas sequências mas com recepções mornas pela crítica e público: ‘The Matrix Reloaded’ e ‘The Matrix Revolutions’, ambas em 2003. Agora em 2021 a diretora Lana Wachowski (sim, Lilly ficou de fora) nos entrega o quarto filme da saga com a missão tanto de agradar o público antigo do longa original como também angariar novos fãs que eram muito jovens em 1999 mas que irão comprar ingresso para esse filme outros no futuro. Incrivelmente os trailers não entregaram muito da trama mas certamente adiantaram que o casal famoso da trilogia, Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) não morreram como nos levou a crer o terceiro ato de The Matrix Revolutions. Quem não retornou – pasmem – foi o ator Laurence Fishburn pois agora o enigmático personagem Morpheus foi interpretado pelo bom Abdul-Mateen II, famoso pelo vilão Black Mamba em ‘Aquaman‘ (idem – 2018). Como não poderia deixar de ser, ‘Matrix Resurrections’ é repleto de referências ao longa original chegando a inclusive passar cenas do filme de 1999 em uma telona como se fosse um filme dentro de outro filme. A diretora e também roteirista Lana Wachowski traz um enredo que abraça sem qualquer vergonha a desconstrução do que se tornou a franquia após terem se passado mais de duas décadas, citando por exemplo a própria empresa Warner Bros. (estúdio que produz o longa) em um diálogo entre os personagens. Interessante e controversa foi também a decisão da diretora de deixar de usar a palheta de cor esverdeada – amplamente utilizada quando os personagens estão dentro da Matrix – para diferenciar o mundo criado digitalmente do real. Nada em ‘Matrix Resurrections’ é ‘preto no branco’ pois essa área cinza, ambígua e complexa é trazida constantemente para a trama – atenção para o personagem do agente Smith – o que para alguns pode ter propositadamente raiz na própria vida particular da talentosa diretora que é uma mulher transgênero.

Em relação ao elenco, a boa notícia é que a química entre Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) continua sendo o ponto alto do filme, transformando o longa em uma história de amor futurista. Contudo, quem pensa que o destaque do filme é para Neo – mostrando um Keanu Reeves linear e sem muito esforço para atuar – engana-se pois a trama gira mesmo em torno de Trinity (Carrie-Anne Moss), agora com poderes superiores ao do protagonista original. Certamente, para se distanciar do personagem de outra saga, John Wick, também interpretado por Reeves, não me recordo de ter visto Neo manuseando ou atirando com armas de fogo, restringindo-se a usar suas habilidades de Kung-Fu e alguns novos poderes que fariam um Jedi ficar com inveja, já devidamente mostrado nos – famigerados – trailers. O destaque para o elenco de apoio sem dúvida nenhuma fica mesmo para a promissora atriz Jessica Henwick (‘MARVEL – Punho de Ferro’ – 2018 e ‘Ameaça Profunda’ – 2020) que ao interpretar a personagem Bugs, participa ativamente dos três atos, convencendo em suas motivações e claro, se saindo muito bem nas cenas de ação devido ao seu passado de artes marciais. Os efeitos especiais de CGI estão muito bons, entretanto, não esperemos algo inovador – ao estilo divisor de águas – como o que tivemos em 1999 no chamado de ‘Bullet Time’ onde Neo se desvia de balas em câmera lenta jogando seu corpo para trás na icônica cena no terraço de um prédio.

Em termos de ação, somente no terceiro ato é que temos algo diferenciado, pois o casal de protagonistas salta – sem uso de dublês ou fundo verde – de cima de um alto edifício, utilizando a bela iluminação natural de uma magnífica manhã, na melhor tomada do filme. ‘Matrix Resurrections’ perde muito tempo explicando o que não deveria ser explicado com excessos de flashbacks – talvez para contextualizar telespectadores na casa dos 20 anos – e ignora alguns elementos chave dessa enigmática nova Matrix como o fato de agora ser possível sair do mundo virtual sem o uso do famoso telefone. Quando viajamos e passamos muito tempo olhando para o retrovisor, tanto podemos colidir o carro como perdemos a chance de apreciar a paisagem a frente e talvez essa falta de coragem e originalidade de ‘Matrix Resurrections’ seja seu maior pecado, mas ainda assim o longa deve ser conferido – preferencialmente em IMAX – se você amou a produção original. Vale destacar que a Warner Bros. Brasil teve o zelo de colocar no português todos os textos mostrados em computadores e telas de dispositivos móveis do filme o que certamente sempre agrada ao público quando isso ocorre. Caros amigos, com essa crítica encerramos nossa jornada de 2021 e agradeço o apoio e divulgação desse espaço. Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um Ano Novo de muita saúde e realizações! Nos vemos em 2022 e bons filmes!

Alexandre Carvalho – Editor

 

Bom

Ficha Técnica:
Título: MATRIX RESURRECTIONS (THE MATRIX RESURRECTIONS)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2021 148 min.
Classificação: 14 anos
Gênero: Ação, Ficção científica
Direção: Lana Wachowski
Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell, Aleksandar Hemon
Produção: Lana Wachowski, Aimee Allegretti, Bruce Berman, Matt Bilski, Miki Emmrich, José Luis Escolar, Christoph Fisser, Grant Hill, James McTeigue, Henning Molfenter, Terry Needham, Loranne Turgeon, Charlie Woebcken
Estúdio: Warner Bros., Silver Pictures, NPV Entertainment, Village Roadshow Pictures
Distribuição no Brasil: Warner Bros.
Estréia: 22/12/2021
Elenco: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jada Pinkett Smith, Jessica Henwick, Neil Patrick Harris, Priyanka Chopra Jonas