Crítica | Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker
A saga dos Skywalker iniciada por George Lucas com o despretensioso mas excelente ‘Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança’ (Star Wars: Episode IV – A New Hope – 1977) depois de 42 anos e 9 filmes chega ao seu desfecho com o aguardado ‘Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker’ dirigido por J.J. Abrams. Um filme que deveria funcionar exclusivamente como um fechamento, na realidade gasta muito de seu tempo tentando desfazer o que foi mostrado no longa anterior dirigido por Rian Johnson, ‘Star Wars: Os Últimos Jedi’ (Star Wars: The Last Jedi – 2017). A trama gira em torno da resistência tentando lidar com uma nova ameaça liderada pelo Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), o qual já entregava seu retorno nos trailers através de sua risada icônica. Sim, o Imperador não estava morto, e utilizou esse tempo para formar uma super poderosa armada de Destroyers em um local secreto no espaço para então liquidar de vez a rebelião. Nesse contexto, temos a Jedi Rey ao passo que tenta ajudar a causa dos rebeldes, busca igualmente descobrir mais sobre seus poderes e passado, notadamente quem seriam seus pais biológicos. Tecnicamente o longa é impecável pois a Disney, agora dona da icônica franquia, não poupou recursos para um excelente CGI, efeitos sonoros e práticos e finalmente uma cenografia e maquiagens dignas de Oscar. A química do elenco principal continua muito boa, entretanto, o roteiro apressadamente inclui novos e dispensáveis personagens o que enfraquece a narrativa e não cria um elo com o telespectador pois esse não tem tempo para se importar com essas repentinas inclusões. Ainda em relação ao elenco, ‘Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker’ precisou lidar com a morte da atriz Carrie Fisher em 2016 que interpretava a Princesa Leia, mesclando dublês de corpo, CGI e cenas já gravadas da personagem para preencher lacunas e finalmente encerrar ser arco narrativo.
A desconstituição de elementos do longa anterior com a narrativa do atual é tão descarada que o mesmo Luke Skywalker que em ‘Star Wars: Os Últimos Jedi’ descartou sua famosa arma jogando fora seu sabre de luz logo após tê-lo recebido, agora, em ‘Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança’, ao se deparar com a personagem Rey fazendo a mesmíssima coisa, a recrimina dizendo: ‘isso não é maneira de tratar um sabre de luz…’. O retorno de Luke já era esperado e agora mesmo na forma astral, lhe foi conferido novas habilidades pois sua versão ‘fantasminha camarada’ é capaz de interagir com pesados objetos do mundo real de forma a fazer inveja aos mais poderosos Jedis. Outra ‘novidade’ dispensável é que agora a conexão mental entre a protagonista Rey (Daisy Ridley) e o vilão Kylo Ren (Adam Driver) possibilita, pasmem, a troca de objetos entre eles mesmo estando em planetas diferentes, isto é, um colar usado pela heroína pode desaparecer dela e surgir na mão do antagonista durante essa comunicação telepática. Mas a coisa piora um pouco quando é revelado que usando a ‘força’, Rey também consegue curar os feridos nos quais alguns deles ela acabara de ferir. Ninguém realmente morre na trama do longa pois além das voltas inesperadas e sem contexto (até Harrison Ford foi convencido a fazer uma pontinha como Han Solo devido ao falecimento prematuro da atriz Carrie Fisher) até os equipamentos velhos e abandonados voltam a funcionar sem problema algum, como a nave X-Wing de Luke submersa na água por longos anos. E se na história alguém merece uma nota 10 com louvor, estes são os engenheiros construtores de naves e veículos pois além destes acessarem a velocidade da luz com extrema facilidade, nenhuma avaria é complexa demais que não possa ser consertada em poucos minutos. ‘Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker’ é um filme bastante corrido e isso se apresenta como seu principal pecado, entretanto, a excessiva presença de ‘fan services’ no longa mais atrapalha do que auxilia em sua trama. A saga de Star Wars em seu início fazia referencia proposital a dezenas de filmes amados por George Lucas mas depois de quatro décadas, a franquia agora faz referência justamente ao seu material mais antigo somente para agradar seu público com mais de quarenta anos.
O fã ardoroso da franquia sabe que a cena final de ‘Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança’ (Star Wars: Episode IV – A New Hope – 1977) onde durante a premiação vemos Luke e Han Solo recebendo medalhas, o carismático Chewbacca nada recebe, ficando de mãos (ou pescoço) vazias ao lado dos protagonistas. Durante muitos anos essa controversa cena foi duramente criticada por uma legião de amantes de Star Wars, contudo, agora em ‘Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança’, de forma totalmente tirada de contexto, pois não havia premiação alguma, Chewie recebe inesperadamente, pasmem, a tal medalha. A trilha sonora é o ponto alto do longa pois continua a cargo de John Williams (auxiliado pelo compositor Don) e mescla faixas originais em momentos pontuais com novos arranjos durante cenas com menos correria. ‘Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker’ é um filme que também poderia se firmar como o final da saga do vilão Palpatine pois este se mostra o grande arquiteto e mentor dentre os vilões passados o qual teve que ser trazido de volta pelo rebuscado enredo após Snoke não ter agradado muito o público. No final vemos um Lando Calrissian (sim, ele volta mesmo sem função relevante) já envelhecido e cortejando nitidamente uma jovem mulher negra assim como também vemos um beijo entre mulheres apenas de relance. Bom, se o longa deseja mostrar a diversidade a faça de forma corajosa e mostre-a com mais tempo de tela e não ‘somente para constar’ pois da forma retratada não agradará nenhuma das duas correntes. ‘Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker’ busca encerrar uma história que embalou três gerações, contudo, não o faz de maneira acertada por diversas decisões equivocadas apesar de ter tido tempo e recursos para criar algo digno desse esperado desfecho. Temos um bom filme de aventura e ficção científica que preferencialmente deve ser apreciado em uma sala IMAX (se disponível) mas que se comparado a alguns de seus antecessores recentes, ficará certamente em uma posição desfavorecida. Mesmo com esse encerramento da saga Skywalker não será uma grande surpresa vermos algum Jedi fazendo aquela aparição surpresa (leia-se ‘fan service’) em futuras produções da Disney a qual não mostra intenção alguma de encerrar por aqui o universo mágico de Sar Wars. Finalmente, para os fãs que desejam conferir um excelente spin-off (derivado) da saga, vale a pena assistir a mini-série ‘O Mandaloriano’ (The Mandalorian – 2019) atualmente exibido para os assinantes da Disney+ onde o ator Pedro Pascal interpreta o papel título. Que a força esteja com vocês!
Alexandre Carvalho – Editor
Bom
Ficha Técnica:
Título: STAR WARS: EPISÓDIO IX – A ASCENSÃO DE SKYWALKER (STAR WARS: THE RISE OF SKYWALKER)
País/Ano/Duração: Estados Unidos , 2019 , 141 min.
Classificação: 12 anos
Gênero: Ficção Científica
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Chris Terrio, Colin Trevorrow, Derek Connolly, George Lucas, J.J. Abrams
Produção: J.J. Abrams, Kathleen Kennedy, Michelle Rejwan
Estúdio: Bad Robot, Lucasfilm, Walt Disney Pictures
Distribuição no Brasil: Disney / Buena Vista
Estréia: 19/12/2019
Elenco: Adam Driver, Daisy Ridley, Domhnall Gleeson, John Boyega, Keri Russell, Mark Hamill, Oscar Isaac, Lupita Nyong´o, Carrie Fisher, Ian McDiarmid, Billy Dee Williams, Joonas Suotamo, Anthony Daniels, Jimmy Vee