Crítica I Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa

Desde ‘Vingadores: Ultimato’ (Avengers: Endgame – 2019) que não se via um hype para um filme de fato tão gigantesco. Teorias sobre participações especiais, enredo, novos trajes, quem morreria são apenas alguns dos questionamentos feitos ao longo dos meses por blogueiros e websites especializados. Espertamente a Disney – a qual detém temporariamente os direitos do personagem o qual pertence mesmo a Sony – soltou muito pouco material durante esse período, deixando mesmo as grandes surpresas para o telespectador da telona (sim, o filme foi lançado somente nos cinemas e as plataformas de streaming dessa vez ficaram de fora). O fato é que muita foto ‘vazada’ do filme nesse período ao longo dos meses era de fato verdadeira, entretanto, como hoje em dia tudo é facilmente manipulável, o público não levou muito a sério (sic). Tarefa difícil foi mesmo evitar os spoilers por aqueles que realmente não queriam saber nada antes da estreia pois essas pessoas teriam que ter ficado afastadas da internet de uma forma talvez nunca ocorrida. Tudo isso teve um fim em 16 de dezembro de 2021 – sim, o filme estreou por aqui 1 (um) dia antes dos EUA -, quando o aguardado ‘Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa’ foi finalmente lançado no Brasil, quebrando recordes de ingressos antecipados e causando dificuldades nos servidores que hospedavam a venda desses tickets.

Dirigido mais uma vez pelo linear Jon Watts, ‘Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa’ começa exatamente quando o anterior termina, onde Peter Parker tem que lidar com as sérias consequências de ter sua identidade revelada para o mundo pelo vilão Mistério, alterando drasticamente a vida de todos que o cercam. Justamente esse fardo que amigos e familiares passaram a carregar é que de fato se apresenta como a mola propulsora do enredo escrito por Chris McKenna e Erik Sommers, onde temos um protagonista se sentindo bastante culpado pelas novas dificuldades criadas pela sua vida dupla então exposta. Nesse cenário de tristeza e culpa, Peter (Tom Holland) pede auxílio ao mago Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch já muito a vontade no personagem) que através de um feitiço mal conduzido, abre portais de um multiverso onde heróis e vilões são trazidos para a realidade do herói. Vale ressaltar que esse conceito de multiverso já foi muito bem apresentado pela animação ganhadora de Oscar, ‘Homem-Aranha no Aranhaverso’ em 2019, aclamada pelo público e crítica.

Em ‘Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa’ temos, como não podia deixar de ser, muita ação e excelentes efeitos visuais que vão deixar o telespectador preso na cadeira sem sentir que ficou ali por quase duas horas e meia. Mas sem dúvida alguma, o ponto alto do enredo foi mesmo trazer vilões de filmes anteriores como o Dr. Octopus (Alfred Molina), Electro (Jamie Foxx) e o Duende Verde (Willem Dafoe), este último, roubando a cena sempre que aparece. A participação de ator Willem Dafoe é magistral onde o ator carrega os mesmos trejeitos do vilão mostrado há 19 (dezenove) anos como se não tivesse existido essa enorme janela de tempo entre os longas. Não podemos dizer o mesmo dos vilões Homem-Areia e Lagarto, os quais por possuírem motivações simples – um querendo voltar a ver a filha e o outro desejando recuperar seu braço amputado – são muito mal aproveitados onde o longa sequer se deu o trabalho de chamar os atores originais, aqui apenas recriados digitalmente.

Por sua vez, Holland, tenta imprimir ao protagonista – sem muito êxito – uma carga dramática maior nesse terceiro filme, justamente pelo enredo lidar com perdas e consequências, mas é ofuscado, pasmem, pela participação de Andrew Garfield que nos apresenta a melhor encarnação do personagem até o momento e no longa, alterna cenas de humor, ação e drama como nenhum outro ator realmente conseguiu, antes ou depois dele. Uma pena o público geralmente, ao opinar pela atuação de um ator do Homem-Aranha (e demais) levar em conta a qualidade do filme e não a performance de forma isolada daquele profissional. Finalmente, a atriz Zendaya, que interpreta MJ, continua dando conta do recado mostrando que é bem mais que um rosto bonito ao passo que, se fizer boas escolhas de papeis, de fato irá se firmar com uma grande atriz no futuro seguindo os passos do que ocorreu com a bela e talentosa Nicole Kidman.

A trilha sonora assinada por Michael Giacchino é perfeita, onde chega a ser um personagem oculto nas cenas de ação, drama, humor e claro, nostalgia. O CGI é igualmente muito caprichado e o ponto alto são as batalhas envolvendo o Dr. Estranho e o Dr. Octopus, este último trazendo seus tentáculos totalmente computadorizados o que não ocorreu no filme de Sam Raimi de 2004 quando naquela ocasião, o diretor optou por animatronics manipulados pela produção através de cabos em fundo verde. O roteiro apresenta alguns problemas, notadamente no fato de tentar resolver questões complexas apenas se valendo de ‘magia’ e não podemos, pela atmosfera de nostalgia, deixar de ignorar tais falhas. ‘Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa’ tem tudo para fazer bonito nas bilheterias munidas, podendo se tornar o grande blockbuster pós pandemia com números próximos ao de longas de sucesso antes das restrições das salas de cinema pois acredito que muita gente irá vê-lo na telona mais de uma vez.

A dúvida agora reside em duas relevantes questões: a continuidade do ator em futuras produções (o que deve ocorrer) e se os direitos do personagem irão retornar a Sony onde esta irá produzir os próximos filmes sem a participação da Disney. Para quem sentia falta de um Homem-Aranha sem ajuda da tecnologia e mais próximo dos quadrinhos, a boa notícia é que o final de ‘Homem-Aranha: Sem Volta Pra Casa’ deixa um belo gancho para essa abordagem ‘mais realista’. Por fim, a versão em 3D do filme é uma das piores já vista, onde nenhum efeito ‘salta da tela’, tornando essa versão apenas como um caça-níquel e impondo ao telespectador o uso de incômodos óculos apenas para poder enxergar uma legenda originalmente embaçada. Depois dessa bela aventura, só nos restar aguardar pelas surpresas que o ‘Amigo da Vizinhança’ irá nos trazer!

Alexandre Carvalho – Editor

 

Muito Bom

Ficha Técnica:
Título: HOMEM-ARANHA: SEM VOLTA PRA CASA (SPIDER-MAN: NO WAY HOME)
País/Ano/Duração: EUA, Islândia, 2021, 148 min.
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Aventura
Direção: Jon Watts
Roteiro: Chris McKenna, Erik Sommers
Produção: Kevin Feige, Mitchell Bell, Amy Pascal, JoAnn Perritano, David H. Venghaus Jr.
Estúdio: Columbia Pictures, Marvel Studios, Pascal Pictures, Sony Pictures
Distribuição no Brasil: Sony Pictures
Estréia: 16/12/2021
Elenco: Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacob Batalon, Jon Favreau, Willem Dafoe, Alfred Molina, Jamie Foxx, J. K. Simmons, Andrew Garfield, Tobey Maguire