Crítica | Rocketman

Se em 2018 o filme biográfico da banda Queen, ‘Bohemian Rhapsody’ fez enorme sucesso, inclusive dando a Rami Malek o Oscar de melhor ator, agora em 2019 a biografia musical de Elton John‘Rocketman’ aposta em um tom mais adulto e bem mais realista ao retratar a vida do icônico pop star. Essa abordagem, sem as criticadas suavizações ocorridas na vida de Freddie Mercury, – com o perdão dessas inevitáveis comparações – ocorreu justamente em um longa assumidamente musical em que a cada 15 min. alterna diálogos e cenas de danças embaladas por canções com as vozes dos próprios atores participantes. A mistura entre a fantasia dos clips musicais com a realidade das cenas fortes de homossexualismo e abuso de bebidas e drogas do personagem principal foram muito bem conduzidas pelo diretor Dexter Fletcher que já tinha trabalhado com o ator Taron Egerton em ‘Voando Alto’ (Eddie the Eagle – 2015). Outra curiosidade que liga as duas biografias recentes é que o diretor Dexter Fletcher finalizou, ainda que não creditado pelas regras da associação de roteiristas de Hollywood, o longa ‘Bohemian Rhapsody’ após a demissão de Bryan Singer por diferenças criativas (sempre elas). Por falar em Taron Egerton (Elton John), o ator, auxiliado pelo belo figurino da produção, soube incorporar todos os trejeitos de Elton John com perfeição apesar de, particularmente, achar que a interpretação não chegue a render maiores prêmios ao jovem e promissor talento. ‘Rocketman’ acompanha, através de flasbacks, a vida do cantor desde sua infância onde naquela idade já se destacava pelo enorme talento no piano o que no futuro seria justamente seu grande diferencial. Problemas familiares são muito bem retratados, seja pelo distanciamento e indiferença (até depois do sucesso do filho) de seu pai através de uma grande performance do ator Steven Mackintosh, como de sua mãe, onde vemos uma Bryce Dallas Howard com vários quilos a mais sem qualquer auxílio de próteses, maquiagens ou mesmo CGI.

A trama da produção basicamente funciona como uma grande redenção do controverso e talentoso cantor o qual parece não ter colocado qualquer empecilho em se mostrar com desvios de caráter, adepto de orgias, depressivo-suicida e grande viciado em álcool e todos os tipos de drogas, como ele mesmo assume em um dos diálogos do longa. Aqui justamente reside a maior qualidade do longa: desnudar a figura do cantor de sucesso e mostrá-lo como ser humano falho, infeliz e solitário, ainda que cercado por centenas de pessoas. A relação com o músico e seu melhor amigo e letrista Bernie Tapin, papel de Jamie Bell, merece igualmente destaque, tanto pela química dos atores como pelo fato de retratar com maestria o amor de irmãos entre eles, ainda que no começo da parceira, Elton John tenha confundido os sentimentos e tentado ter algo a mais com o criativo e hétero rapaz. A relação com o inescrupuloso empresário vivido por Richard Madden é mostrada sob todos os aspectos, ora pelo envolvimento sexual de ambos, ora por deixar claro que aproveitando-se da fragilidade e solidão do artista, John Reid ganhou muito dinheiro de forma ardilosa e desonesta. O telespectador desfruta das principais canções de Elton John ao longo do enredo de maneira bastante acertada e diga-se de passagem, estão todas lá: RocketmanGoodbye Yellow Brick Road e Crocodile Rock, essa última interpretada em seu primeiro show no clube Troubadour e que iniciaria sua inigualável carreira de sucesso. ‘Rocketman’ não ignora nenhum fato relevante na vida do cantor, seja alegre ou triste, inclusive no que podemos chamar de clímax, é mostrado o artista abandonando um show em Nova Iorque e pegando um táxi para se internar em uma clínica de reabilitação, decisão esta que certamente foi responsável por Elton John estar vivo nos dias de hoje, enquanto muitos outros já padeceram pelos excesso da drogas e álcool. O final do longa faz questão de informar que o cantor está sóbrio há 28 anos, feliz e casado com produtor de cinema David Furnish (que produziu também ‘Rocketman’) onde o casal pretende se focar na criação de seus dois filhos nos próximos anos. O verdadeiro Elton John deixa claro que ao contribuir de maneira sincera com o longa ele fez as PAZES com seu passado e essa coragem, que não foi vista em produções biográficas recentes, só adiciona credibilidade a produção que tanto encantará os milhões de fãs do cantor ainda em atividade – sua turnê mundial Farewall Yellow Brick Road, iniciada em 2018 terá fim em 20121 – como uma nova geração que deseja ter sucesso e se inspirar com belas histórias.

Alexandre Carvalho – Editor

 

Muito Bom

Ficha Técnica:
Título: ROCKETMAN (IDEM)
País/Ano/Duração: Reino Unido, 2019, 121 min.
Classificação: 16 anos
Gênero: Musical, Biografia
Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Produção: Elton John, Lawrence Bender, Adam Bohling, David Furnish, David Reid, Peter Schlessel, Lauren Selig, Matthew Vaughn
Estúdio: Marv Films, Marv Studios, New Republic Pictures, Paramount Pictures, Pixoloid Studios, Rocket Pictures
Distribuição no Brasil: Paramount Pictures
Estréia: 30/05/2019
Elenco: Taron Egerton, Alison Ball, Benjamin Mason, Bryce Dallas Howard, Eddie Register, Guillermo Bedward, Jamie Bacon, Jamie Bell, Kamil Lemieszewski, Luke White, Richard Madden, Samuel Magee, Solomon Mousley