Crítica | Shazam!

Alguns atores nasceram para certos personagens e desempenharam tão bem seus papéis de heróis que o grande público teria dificuldade em associar outros nomes aos icônicos super-heróis como é o caso de Robert Downey Jr. (Homem de Ferro/Tony Stark), Hugh Jackman (Wolverine), Christopher Reeve (Superman) e Ryan Reynolds (Deadpool). Bom, agora temos que por justiça incluir nessa lista o nome do ator Zachary Levi como Shazam pois sua escolha é de longe o maior acerto do filme do mesmo nome. Primeiramente temos que lembrar que o nome  Shazam é composto pelas inicias e dons de Salomão (sabedoria), de Hércules (força), de Atlas (vigor), de Zeus (poder), de Aquiles (coragem) e de Mercúrio (velocidade). Criado em 1940 por C. C. Beck e Bill Parker, o Capitão Marvel (hoje conhecido como Shazam) surgiu como uma alternativa da Fawcett Comics para combater o hype iniciado nos quadrinhos após a publicação de Superman. O personagem funcionou e tornou-se um sucesso de vendas e popularidade dai rapidamente foi levado a outras mídias, entretanto gerou uma ação por plágio por parte da DC Comics que entendeu que haviam similaridades gritantes com o seu personagem filho de Krypton com o famoso ‘S’ no peito. A história de ‘Shazam!’ respeita a origem clássica herói onde Billy Batson (Asher Angel) tem apenas 14 anos de idade, mas recebeu de um antigo mago o dom de se transformar num super-herói adulto chamado Shazam (Zachary Levi). O tom leve do filme exagerando nas piadas (já antecipado nos primeiros trailers de divulgação) e se contrapondo com o tom ‘dark’ dos filmes anteiros da DC Comics dirigidos por Zack Snyder parece mesmo que será o caminho a ser seguido da empresa depois dos muito bem sucedidos ‘Mulher Maravilha’ (Wonder Woman – 2017) e Aquaman (idem – 2019).

Comparações inevitáveis a parte, as piadas e a ‘pegada cômica’ de ‘Shazam!’ funcionam melhor e fazem bem mais sentido que as vistas no recente filme da Marvel‘Thor: Ragnarok’ (idem – 2017). Além dos dois atores que intercalam o herói adulto e adolescente, o elenco de apoio está igualmente afinadíssimo com destaque para a química entre Zachary Levi e o promissor ator Jack Dylan Grazer que interpreta Freddy Freeeman, irmão adotivo de  Billy Batson que possui mobilidade reduzida mas o ajuda muito em sua caminhada de descobertas. As cenas onde Freedy e Shazam treinam e testam as habilidades é embalada pela trilha sonora do Queen (Don´t Stop Me Now) e funcionam pela naturalidade e fluidez pois tudo indica que seria o que dois adolescentes realmente fariam dentro daquele contexto de superpoderes recém adquiridos. As cenas de ação possuem um CGI satisfatório apesar do baixo orçamento do longa (U$ 80-90 milhões) em comparação aos similares do gênero onde o diretor David F. Sandberg optou por efeitos práticos ao invés de computação gráfica sempre que possível. O vilão Dr. Sivana  (no Brasil Silvana) é feito pelo excelente Mark Strong que já nos tinha entregue um grande vilão em ‘Lanterna Verde’ (Green Lantern – 2011) apesar do filme ter sido um grande fracasso de público e crítica e hoje ser motivo de piadas pelo seu ator principal, Ryan ReynoldsShazam! vai evoluindo na trama sem retrocessos e seu desfecho traz uma grande surpresa que se os brinquedos licenciados do longa não a estragaram, fará a alegria de muita gente incluindo os marmanjos de mais de 40 anos.

O filme não se arrisca tentando ser um divisor de águas do gênero, contudo mesmo em território ‘seguro’ ainda assim possui algumas falhas que não chegam a estragar em nenhum momento a experiência. O herói salvando um ônibus despencando de uma grande altura pelo vidro frontal e este não quebrar, os músculos exagerados em uma roupa com nítidos enchimentos e personalidades bem diferentes entre o herói adulto e sua versão adolescente são pequenos deslizes totalmente perdoáveis no longa. A ausência de sangue e cenas mais fortes são propositais para tentar manter a censura leve e atrair um pouco mais de telespectadores, entretanto, o roteiro poderia ter explorado bem mais a ambiguidade entre o ‘claro’ e ‘escuro’ onde o segundo é nitidamente suavizado o que fragiliza a história e retira de alguns momentos a devida e necessária sobriedade em cenas onde seria requerida. Mas nada nos prepararia para a pior maquiagem de Hollywood que foi a do Mago interpretado pelo ator Djimon Hounsou que mais parecia um Papai Noel de bairro em fim de carreira de tão barata e artificial; uma pena. ‘Shazam!’ traz uma infinidade de referências, tanto ao universo da DC Comics e seus heróis como de antigos filmes, contudo, de longe a mais evidente é a de ‘Quero Ser Grande’ (Big – 1988) onde a icônica cena dos teclados gigantes protagonizada por Tom Hanks é rapidamente recriada com criatividade pois em ambas as obras existe a interessante jornada do “garoto em corpo de adulto”. O desfecho do terceiro ato na batalha final é mal editado mas temos igualmente uma participação ‘super’ (literalmente super) especial no final da película ainda em seu tempo normal de exibição lembrando que existem duas cenas pós créditos para aqueles que optam por aguardar todos os créditos. ‘Shazam!’ é um filme de família, sobre relacionamentos e escolhas e que de tão despretensioso e divertido deve ser visto e apreciado por pessoas de várias idades e preferências.

Alexandre Carvalho – Editor

 Bom

Ficha Técnica:
Título: SHAZAM! (IDEM)
País/Ano/Duração: Estados Unidos, 2019, 122 min.
Classificação: 12 anos
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Direção: David F. Sandberg
Roteiro: C.C. Beck, Henry Gayden, Darren Lemke, Bill Parker
Produção: Jeffrey Chernov, Dwayne Johnson, Peter Safran
Estúdio: Warner Bros., DC Entertainment, DC Comics, New Line Cinema
Distribuição no Brasil: Warner Bros.
Estréia: 04/04/2019
Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Mark Strong, Djimon Hounsou, Jack Dylan Grazer, Grace Fulton, Ian Chen, Faithe Herman, Cooper Andrews, Marta Milans, Meagan Good, D.J. Cotrona, Adam Brody, Ross Butler e Michelle Borth